07 abril, 2009

“Está tudo bem”


Um dia contei-te o meu segredo…
Contei-to cheia de medo
Estava triste e com saudades de outros tempos, bêbeda e deitada na tua cama enquanto me falavas de ti e recordavas momentos em que estivemos juntas.

[Tanta falta me fazes hoje, mesmo não te tendo.]

Dizias-me isto e aquilo, convidavas-me para ir para junto de ti e quase me convenceste.
Tentavas pôr juízo nesta minha cabeça, enquanto me tinhas deitada sobre as tuas pernas e me fazias festas na cabeça.
Quase adormecia no teu colo, entre frases mal feitas. Entre vontades contadas e desejadas, deixo escapar o meu segredo.


- Tinha medo que me odiasses.

No último dia em que discutimos, saíste a correr de lágrimas nos olhos, e eu nunca te impedi.
Foi o último dia em que discutimos, e o ultimo em que te vi.
Vejo-te hoje, calma, pronta a ajudar, a dar-me o teu consolo, o teu sorriso, o teu “Está tudo bem”.
Não me consigo esquecer, não me consigo perdoar. Devia ter corrido em teu alcance, não devia ter dito metade das palavras que usei para te magoar.

Foi num outro dia em que estava bêbeda, em que discuti com a mãe, em que sai com o teu carro e cheguei de táxi, em que via o mundo contra mim, em que desejava estar onde estás tu agora.
E hoje, contigo a apoiar-me, merecia eu trocar contigo. Merecias tu mostrar a todos o teu lindo sorriso, deixares-te passear no carro que eu destrui.

- Vamos trocar?

Tenho medo que odeies, porque não te impedi dessa tua última viagem.
E agora por minha causa, imagino-te na minha cama vazia, e ainda por cima com esse olhar de “Não tem mal”, não existes mais.
Não existes mais, sem a presença da minha garrafa já bebida, da solidão que vivo e da mágoa que sinto.
Eu já me odeio. Não me odeies tu, não hoje.
Não hoje, porque sei que também será o meu último.
Agradeço-te, porque o meu último não acaba contigo a morrer (apenas a uns metros de casa, enquanto olho da janela bêbeda e me riu por teres caído. Odeio-me por não ter sido eu, por não te ter impedido, por ter discutido contigo, por ser a culpa da tua morte); agradeço-te porque no meu último dia te tenho a meu lado a afastar o cabelo da minha face, a dizer que “Está tudo bem”, simplesmente te tenho a meu lado.
E bêbeda e de agulha no braço, ouço-te a dizer, num sussurro calmo, “Eu nunca te iria odiar, e se tivesses morrido primeiro esperava que me viesses buscar para junto de ti, porque adoro-te demasiado para te odiar”.

“Fecha os olhos mana, e quando os voltares a abrir, eu serei a primeira pessoa que verás.”

(Sorrindo, diz:) “Está tudo bem.”



Eliana Oliveira
{7 de Abril de 2009}

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