
Desculpa também, mas exageraste, não me ias partir um pedaço.Foi um encontro, que se transformou numa “perseguição”.
Estavas tão cansado e tão perdido deste mundo quanto eu.
A última vez que olhei para trás, lá vinhas tu, sorri-te; tu também sorriste. Era engraçado, como se fosse mesmo um encontro e não um encontro.
Eu sentei no muro que dividia a praia do passeio, sentei para ler, olhar o mar e estar comigo própria.
Ouvi um flash… fogo, não é que eras tu outra vez…
Lá ouvi dizer outra dúzia de vezes “Desculpa”…
Desta vez disse-te mesmo. Já chega! Andas-me a seguir?...
Disseste que, por acaso, a intenção era roubar-me o rosto, prendê-lo naquele aparelho, para mais tarde o rever.
- Gostei dos teus traços, do teu rosto, do olhar que fizeste a um desconhecido. O mais verdadeiro, sem nada a perder e sem nada a ganhar. Cativou-me. Desculpa. A propósito, sou o Dee… Diego.
- Sou de muitas palavras, mas fico-me por um silêncio. Levas apenas o meu nome… Lee… Eliana… E eu levo a máquina. Amanha sou eu quem te vai parar no tempo com ela. Aqui, onde sou hoje. Vais sentar à minha espera. Por hoje a máquina é minha. Até amanha. Obrigado.
- Deixa-me sentar aqui hoje, ler nos teus olhos as amarguras, deixa-me ler-te.
- Até amanha.
Enquanto te dizia até amanha, não queria ir; dei-te a mão e pus-me em pontas, dei-te um beijo na face. Recebo um abraço de volta.
Arrancas-me um sorriso.
- Guarda este meu sorriso, leva-o contigo.
Engraçado, não combinamos horas.
Era um dia cansativo para mim, faltavam quinze minutos para as seis horas quando te vi. De costas para mim, com o olhar ora no mar, ora no papel que enchias de rabiscos. Estavas concentrado. Deixei-me aparecer a teu lado, de câmara a postos. E click, no momento em que me olhavas através da objectiva. Ficaste com o ar mais natural possível, despenteado, com umas marcas na cara do carvão que usavas para desenhar. Desenhavas um rosto, que rápido escondeste de mim.
- Espero por ti desde as duas horas… Pensei não ver-te hoje, não ver-te mais. Um dia mostro-te o rosto que quase consigo desenhar perfeito. Perfeito é realmente o rosto. Deixa-me fotografar-te.
Desculpa, ainda não te deixei falar…
- (Sorri) Não tenho muito a dizer. Estou a gostar de te ouvir falar. De verdade. Gosto da tua voz.Os teus olhos são verdes, (aproximo-me), e têm uns raios amarelos. Gosto da tua voz e dos teus olhos.
- Cala-te… Desculpa, não era isto que queria dizer. Ou melhor, era. Quero só olhar-te. Este rosto perfeito que tento desenhar é o teu, temo não o conseguir passar para o papel. Queria olhar-te sempre que não te posso ver. Agora sou eu quem me vou calar.
- Desde que cheguei que estás diante de mim. Senta-te aqui a meu lado. Deixa cair a tua mão na minha; as minhas estão frias.
Dee, não é? Não queres caminhar um bocado pela areia?
Começou a desaparecer o sol.
Vários foram os flashes, uns ao sol, outros directamente ao sorriso do outro.
Caminhamos até uma outra praia.
Sentamo-nos, ou melhor (estávamos cansados) e acabamos por deitar o corpo na areia.Suspiramos os dois e soltamos uma gargalhada. Estávamos realmente cansados.
Rebolaste na areia como uma criança, até me ri de ti, deitaste a tua cabeça no meu ombro, enquanto olhávamos os dois para o céu cada vez mais escuro.
- Sabes, ainda bem que te segui ontem, pena não ter levado este rosto para poder ver sempre que essa fosse a vontade. Mas ainda bem que vieste hoje, e ainda bem que leio nesse sorriso um até amanha. Agrada. Ver-te-ei amanha. Não preciso dizer mais. Sinto que te conheço, no real sentido da palavra. Sabes, ficava aqui. Deitado no teu ombro, a sentir o teu cheiro, o teu calor, aqui contigo.
Estou prestes a dizer-te aquilo que não queres ouvir.
- Cala-te, (sorrio), agora é a minha vez de o dizer. Gosto de ti.
- Não acredito. Disseste o que eu pensava não quereres ouvir.
Numa praia…
Eu e o Dee…
Sim, demos um beijo…
{Eliana Oliveira}
[7.10.2008]
[7.10.2008]
isso aconteceu mesmo?? é destino :O
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