27 junho, 2009

Estou prestes a dizer-te aquilo que não queres ouvir…

Um dia chegaste, saído do trabalho. E estando eu, numa das poucas vezes, a passear, depois de deixar o carro já não me lembro onde; eis que vens de encontro a mim, literalmente de encontro a mim…Quase te queimei com o meu cigarro, quase apaguei o cigarro em ti, quase me derrubavas.Não sei mesmo quantas vezes me pediste desculpa.
Desculpa também, mas exageraste, não me ias partir um pedaço.Foi um encontro, que se transformou numa “perseguição”.
Estavas tão cansado e tão perdido deste mundo quanto eu.
A última vez que olhei para trás, lá vinhas tu, sorri-te; tu também sorriste. Era engraçado, como se fosse mesmo um encontro e não um encontro.
Eu sentei no muro que dividia a praia do passeio, sentei para ler, olhar o mar e estar comigo própria.
Ouvi um flash… fogo, não é que eras tu outra vez…
Lá ouvi dizer outra dúzia de vezes “Desculpa”…
Desta vez disse-te mesmo. Já chega! Andas-me a seguir?...
Disseste que, por acaso, a intenção era roubar-me o rosto, prendê-lo naquele aparelho, para mais tarde o rever.

- Gostei dos teus traços, do teu rosto, do olhar que fizeste a um desconhecido. O mais verdadeiro, sem nada a perder e sem nada a ganhar. Cativou-me. Desculpa. A propósito, sou o Dee… Diego.

- Sou de muitas palavras, mas fico-me por um silêncio. Levas apenas o meu nome… Lee… Eliana… E eu levo a máquina. Amanha sou eu quem te vai parar no tempo com ela. Aqui, onde sou hoje. Vais sentar à minha espera. Por hoje a máquina é minha. Até amanha. Obrigado.

- Deixa-me sentar aqui hoje, ler nos teus olhos as amarguras, deixa-me ler-te.

- Até amanha.

Enquanto te dizia até amanha, não queria ir; dei-te a mão e pus-me em pontas, dei-te um beijo na face. Recebo um abraço de volta.
Arrancas-me um sorriso.

- Guarda este meu sorriso, leva-o contigo.
Engraçado, não combinamos horas.
Era um dia cansativo para mim, faltavam quinze minutos para as seis horas quando te vi. De costas para mim, com o olhar ora no mar, ora no papel que enchias de rabiscos. Estavas concentrado. Deixei-me aparecer a teu lado, de câmara a postos. E click, no momento em que me olhavas através da objectiva. Ficaste com o ar mais natural possível, despenteado, com umas marcas na cara do carvão que usavas para desenhar. Desenhavas um rosto, que rápido escondeste de mim.
- Espero por ti desde as duas horas… Pensei não ver-te hoje, não ver-te mais. Um dia mostro-te o rosto que quase consigo desenhar perfeito. Perfeito é realmente o rosto. Deixa-me fotografar-te.
Desculpa, ainda não te deixei falar…

- (Sorri) Não tenho muito a dizer. Estou a gostar de te ouvir falar. De verdade. Gosto da tua voz.Os teus olhos são verdes, (aproximo-me), e têm uns raios amarelos. Gosto da tua voz e dos teus olhos.
- Cala-te… Desculpa, não era isto que queria dizer. Ou melhor, era. Quero só olhar-te. Este rosto perfeito que tento desenhar é o teu, temo não o conseguir passar para o papel. Queria olhar-te sempre que não te posso ver. Agora sou eu quem me vou calar.
- Desde que cheguei que estás diante de mim. Senta-te aqui a meu lado. Deixa cair a tua mão na minha; as minhas estão frias.
Dee, não é? Não queres caminhar um bocado pela areia?

Começou a desaparecer o sol.
Vários foram os flashes, uns ao sol, outros directamente ao sorriso do outro.
Caminhamos até uma outra praia.
Sentamo-nos, ou melhor (estávamos cansados) e acabamos por deitar o corpo na areia.Suspiramos os dois e soltamos uma gargalhada. Estávamos realmente cansados.
Rebolaste na areia como uma criança, até me ri de ti, deitaste a tua cabeça no meu ombro, enquanto olhávamos os dois para o céu cada vez mais escuro.
- Sabes, ainda bem que te segui ontem, pena não ter levado este rosto para poder ver sempre que essa fosse a vontade. Mas ainda bem que vieste hoje, e ainda bem que leio nesse sorriso um até amanha. Agrada. Ver-te-ei amanha. Não preciso dizer mais. Sinto que te conheço, no real sentido da palavra. Sabes, ficava aqui. Deitado no teu ombro, a sentir o teu cheiro, o teu calor, aqui contigo.
Estou prestes a dizer-te aquilo que não queres ouvir.

- Cala-te, (sorrio), agora é a minha vez de o dizer. Gosto de ti.

- Não acredito. Disseste o que eu pensava não quereres ouvir.

Numa praia…
Eu e o Dee…
Sim, demos um beijo…

{Eliana Oliveira}
[7.10.2008]

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