25 janeiro, 2011

Ele beijou-a quando sentiu o amor de amar em que ela não se sabia acreditar…

A mancha de batom num copo manchado do que foi há umas horas atrás um copo de vinho.

Na mesa do lado, conversas parvas s ouvem quando nos olhámos; eles também nos olham.

Vêm o que há muito não via eu, um sorriso no olhar para que sorrio.

Falas-me de amor de amar; invejo essa tua capacidade de acreditar. Eu estou sempre tão bem estando mal, mas não sei quando voltarei a acreditar.

É bom ver amor e amar entre os olhares que se trocam, aqueles que vejo diante de mim estão certamente a apaixonar-se, sorriem envergonhados, evidenciam carinho, tentam a aproximação através do toque.

Enquanto os seus colegas trocam risinhos durante este encontro de trabalho, eles, alheios a tudo, levantam-se e caminham por entre as mesas em direcção à saída.

Ela fumava, e ele, que achava este um mau vicio, não se importou. Fez-lhe companhia durante todos os segundos, segurando na mão dela de cada vez que ela queria voltar à mesa.

Ele queria ficar ali até que o tema de conversa acabasse, até que o restaurante fechasse portas, ele queria estar na sua companhia, ali e só com ela, como nunca tinha estado, como gostava de estar.

Era o aniversário de um colega, nem próximo de um, nem próximo de outro, e foi então que o quase beijo foi interrompido com um:

- Que estão aqui a fazer o dois sozinhos?! Vamos cantar o meio século do João. Estávamos à vossa espera. Sara, sabes que a mesa está na zona de fumadores?! Venham daí!

Nós olhamo-nos! Eu muito envergonhada, tu com cara de quem se está pouco importando por cantar pela segunda vez hoje, os parabéns a um tipo com mais de 20anos que tu, que trata mal toda a gente e com um péssimo mau humor.

Enfim, desta vez a tua mão não impediu a minha de te arrastar até ao grande salão onde disposta em “L” está uma mesa com 25 tipos engravatados, 4 ou 5 oferecida e uns poucos seres ditos normais.

- Parabéns a você, quero estar contigo quando acabar esta farsa (sussurra-me ele ao ouvido), quero continuar a conversa. Hoje é dia de festa, e nós vamos beber um copo os dois. Não aceito desculpas e muito menos recusas.

- Nunca ouvi essa versão dos Parabéns! Onde vamos?

O barulho tornou-se cada vez mais notório, todos os beijos e abraços ao tipo mais ranhoso que conheci.

No meio da confusão, sinto-me rodeada por dois braços fortes e quentes; viras-me para ti, e sem sequer poder pestanejar beijas-me como um adolescente.

Foges no meio dos loucos de cerveja na mão, sem perceber estavas já a despedir-te do cinquentão.

- Fico à tua espera no carro! Já sei onde vamos. – Sussurra-me enquanto me beija a face; mais uma vez o tempo não deu sequer para perguntar “O quê?”, já tu estavas de costas voltadas, a caminho da saída.

Não tinha outra alternativa nem vontade, senão despedir-me do João e desculpar-me com uma dor de cabeça de circunstância.

A verdade é que não sabia onde estavas; segui então para o meu carro, onde te encontrei exactamente estacionado ao lado.

- Que conversa querias tu continuar que fosse tão importante, que não podíamos ter lá, enquanto comia uma fatia daquele bolo?

Por acaso tinha muito bom aspecto o bolo!

- Deixa lá o bolo. O que tinha para te dizer é simples, no entanto complexo.

Eu sou prático e costumo ser directo, e como tal, não te vou esconder nada.

- É grave? O que se passa?

- Ainda não se passa, mas quero passar os dias e as noites a ver-te sorrir, quero estar contigo como naqueles breves minutos em que estivemos sozinhos.

Desculpa, mas quero beijar-te!

- Na ausência de palavras, as acções tomam posse do meu corpo, e como tal, desculpa, mas vou beijar-te!


Ele não tem nome, porque não existe; ela é a Sara que não sei onde mora, ou se algum dia morou!

Eles apaixonaram-se mesmo antes do despertar do meu sonho; eu continuo à espera de ser personagem de um destes sonhos (e não acordar).


Eliana Oliveira

1 comentário:

  1. A falta de comentários,a quem escreve com a alma na ponta dos dedos nc é significativa... pois quem o escreve nao procura admiradores, procura um aconchego do coração, um desabafo mudo que alivia a alma...

    ResponderEliminar