
Na mesa do lado, conversas parvas s ouvem quando nos olhámos; eles também nos olham.
Vêm o que há muito não via eu, um sorriso no olhar para que sorrio.
Falas-me de amor de amar; invejo essa tua capacidade de acreditar. Eu estou sempre tão bem estando mal, mas não sei quando voltarei a acreditar.
É bom ver amor e amar entre os olhares que se trocam, aqueles que vejo diante de mim estão certamente a apaixonar-se, sorriem envergonhados, evidenciam carinho, tentam a aproximação através do toque.
Enquanto os seus colegas trocam risinhos durante este encontro de trabalho, eles, alheios a tudo, levantam-se e caminham por entre as mesas em direcção à saída.
Ela fumava, e ele, que achava este um mau vicio, não se importou. Fez-lhe companhia durante todos os segundos, segurando na mão dela de cada vez que ela queria voltar à mesa.
Ele queria ficar ali até que o tema de conversa acabasse, até que o restaurante fechasse portas, ele queria estar na sua companhia, ali e só com ela, como nunca tinha estado, como gostava de estar.
Era o aniversário de um colega, nem próximo de um, nem próximo de outro, e foi então que o quase beijo foi interrompido com um:
- Que estão aqui a fazer o dois sozinhos?! Vamos cantar o meio século do João. Estávamos à vossa espera. Sara, sabes que a mesa está na zona de fumadores?! Venham daí!
Nós olhamo-nos! Eu muito envergonhada, tu com cara de quem se está pouco importando por cantar pela segunda vez hoje, os parabéns a um tipo com mais de 20anos que tu, que trata mal toda a gente e com um péssimo mau humor.
Enfim, desta vez a tua mão não impediu a minha de te arrastar até ao grande salão onde disposta em “L” está uma mesa com 25 tipos engravatados, 4 ou 5 oferecida e uns poucos seres ditos normais.
- Parabéns a você, quero estar contigo quando acabar esta farsa (sussurra-me ele ao ouvido), quero continuar a conversa. Hoje é dia de festa, e nós vamos beber um copo os dois. Não aceito desculpas e muito menos recusas.
- Nunca ouvi essa versão dos Parabéns! Onde vamos?
O barulho tornou-se cada vez mais notório, todos os beijos e abraços ao tipo mais ranhoso que conheci.
No meio da confusão, sinto-me rodeada por dois braços fortes e quentes; viras-me para ti, e sem sequer poder pestanejar beijas-me como um adolescente.
Foges no meio dos loucos de cerveja na mão, sem perceber estavas já a despedir-te do cinquentão.
- Fico à tua espera no carro! Já sei onde vamos. – Sussurra-me enquanto me beija a face; mais uma vez o tempo não deu sequer para perguntar “O quê?”, já tu estavas de costas voltadas, a caminho da saída.
Não tinha outra alternativa nem vontade, senão despedir-me do João e desculpar-me com uma dor de cabeça de circunstância.
A verdade é que não sabia onde estavas; segui então para o meu carro, onde te encontrei exactamente estacionado ao lado.
- Que conversa querias tu continuar que fosse tão importante, que não podíamos ter lá, enquanto comia uma fatia daquele bolo?
Por acaso tinha muito bom aspecto o bolo!
- Deixa lá o bolo. O que tinha para te dizer é simples, no entanto complexo.
Eu sou prático e costumo ser directo, e como tal, não te vou esconder nada.
- É grave? O que se passa?
- Ainda não se passa, mas quero passar os dias e as noites a ver-te sorrir, quero estar contigo como naqueles breves minutos em que estivemos sozinhos.
Desculpa, mas quero beijar-te!
- Na ausência de palavras, as acções tomam posse do meu corpo, e como tal, desculpa, mas vou beijar-te!
Ele não tem nome, porque não existe; ela é a Sara que não sei onde mora, ou se algum dia morou!
Eles apaixonaram-se mesmo antes do despertar do meu sonho; eu continuo à espera de ser personagem de um destes sonhos (e não acordar).
Eliana Oliveira
A falta de comentários,a quem escreve com a alma na ponta dos dedos nc é significativa... pois quem o escreve nao procura admiradores, procura um aconchego do coração, um desabafo mudo que alivia a alma...
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