17 agosto, 2009

Haverá uma idade certa?! [1]

Foi com os meus 34 anos que tive o meu primeiro romance.
Um romance arrebatador. Não era virgem até encontrar o Eduardo, mas faltava-me conhecer tanto sobre o amor.

Ele era um velho, como lhe chamava, um daqueles bem vestidos e inteligentes, vividos e cativantes, cheios de charme – quero dizer.
Era um daqueles engravatados durante a semana, e aquele que víamos logo de manha numa esplanada junto à praia, de chinelo e calção.
Adorava estas noites frias de Verão, para me provocar com convites no seu barco, estrategicamente atracado na marina, que tanto frequentávamos, convites esses que eu sempre recusava.

- O teu charme não resulta comigo. – Dizia-te eu vezes sem conta. Mas toda a atenção que me davas, o tempo que era sempre para mim, fazia-me sentir bem. Era alguém assim, que queria para mim.
- Vem jantar, hoje cozinho eu. Levo o barco para o meio do nada; musica, vinho e a tua companhia. Falamos, dançamos, abrimos outra garrafa. Eu não queria ouvir outra vez um não. Faz-me a vontade desta vez.
- Tenho uma condição. Já que tenho que aceitar, será assim: levas-me a passear durante a tarde deste próximo Domingo, e se conseguir suportar a tua companhia, então, aí, ficarei para jantar; jantar esse que tu farás, enquanto eu tomo um belo dum banho quente. E tu, sem espreitares, penduras a toalha estrategicamente ao lado de um copo de vinho.
Não quero música nem velas. Está combinado?!
- Está combinado. Farei como me dizes.

Tinha eu tomado o meu banho.
A propósito, eu sou a Carla, a típica inglesa que aos 16 anos ganhou um carro, aos 18 teve a sua festa de finalista com o seu namorado, com direito a todo o romance, às velas e música que agora não incluía nos meus dias. Vim para Portugal com o coração partido aos 25 anos, quando pensei saber o que era o amor, quando quis dar a mim própria um novo começar.
Deixei o padrasto e a mãe, as irmãs e os poucos amigos que restaram de uma quebra do namoro de quase 8 anos.
Com uma mala pequena andei de Braga, Porto, Coimbra, Lisboa, Alentejo e deixei-me ficar numas das pontas do pais - Portimão.
Tinha chegado pouco antes do Natal, em meados de Novembro; lá arranjei um cubículo onde dormir e onde pude tomar um bom banho de água a escaldar.
Não tinha dificuldade com a língua, mas tinha muita dificuldade em esconder os traços ingleses e a pronúncia inglesada.
Cheguei com uma pele bem clara, uns olhos claros bem mais que comuns em Darlington (cidade de Londres), mas cansados e tristes.
Tudo se foi recompondo, o dinheiro ainda era algum para passear e viver sem emprego.
Procurei um apartamento pequeno, que fosse do meu agrado financeiro e geográfico.
Pintei o cabelo, de um castanho comum em Portugal, já me sentia mais integrada, mais contente por mudar, com vontade de colar as peças perdidas do meu coração.
Porquê Portugal?! Pois, o meu pai era Português, algarvio, pescador, tenho curiosidade em conhecê-lo, encontrá-lo.

Arranjei emprego, suspeito que tenha sido pelos meus lindos olhos avelã e pelas pernas longas e magras que tenho; pouco me importava, este mês conseguia pagar o apartamento perto da marina que consegui encontrar.
Neste emprego, lidava directamente com os pedidos dos clientes… Marketing e Publicidade, sempre tive grande facilidade em falar; facilmente me fui tornando importante na empresa.
Havia passado meio ano, e a minha vida era pouco mais do que o trabalho; sentia saudades de casa, de semanas de férias, de namorar, sentia-me mais sozinha do que queria admitir.
Em tempos ligava à minha mãe todas as semanas, mas nos últimos 3meses, tinha feito apenas 2 telefonemas. De todas as vezes que estava mais triste pensava em ligar para casa, mas se o fizesse iria querer o colo que só a minha mãe me sabia dar.
Desistia sempre e ia dormir, ou passar as noites em claro – como acontecia.

Era um novo dia de trabalho.
Tinha acabado de chegar, com uma chávena de café na mão e com uma cara de sono mal dormido, quando me dizem:
- Viste o e-mail que a empresa mandou, (claro que não vi, ainda não tinha o dinheiro para comprar um portátil, e muito menos para internet), hoje há uma reunião com o chefe, o novo sócio.
- Espero que não seja um ranhoso, com a mania que tem dinheiro.
- Não menina, ouvi dizer que o novo chefe estava disposto a dar um aumento, e nunca ouvi falar em ranhosices.
A propósito, eu sou o Alberto, o novo chefe. A menina como se chama?
- Eu sou a Carla, talvez a mais recente contratada que não vai ser aumentada, por ter suposto que o novo chefe era um ranhoso.
- Muito prazer Carla. Comecemos então a reunião.

Como é obvio, tentei não dar nas vistas até o dia acabar, evitando olhar nos olhos deste Alberto com a mania que era um velho charmoso e com a generosidade de não me despedir.
Corri para casa, e sim, liguei à minha mãe a contar tal peripécia estúpida.

Durante um par de meses evitei estas reuniões, e mesmo cruzar-me com o chefe Alberto; tinha que me manter empregada para suportar a renda alta em frente à marina.
Até ao dia em que o chefe marcou uma reunião, apenas e só comigo, não havia como fugir.
Lá me propôs um novo cargo, devido ao meu bom trabalho até à data, olhou-me nos olhos e nunca mencionou a minha “boca grande”.
Rematara apenas: “Espero que já tenho uma melhor opinião minha.”
Sai fingindo que não tinha ouvido tal comentário, escondi-me atrás de secretaria, acabei o trabalho mais cedo e só imaginava um banho e enterrar-me no sofá com pipocas no colo.
Restavam-me duas semanas para as férias merecidas, ia rever a minha mãe, ia voltar por 3 semanas a Darlington, Inglaterra.

Lá preparei as malas do suposto Verão que ia passar em casa; tanto mudou em quase 9 meses neste pais onde comecei de novo.
9 meses em que não conheci a marina que todos os dias via da janela, onde via nascer e morrer o sol, onde acompanhava passeios de namorados, zangas e sorrisos. Quando voltasse, ainda ia estender o corpinho nas cadeiras ao sol, nem que fosse uma vez apenas.
Malas feitas, bilhete comprado, era hora de pagar mais uma renda e respirar fundo… dentro de horas irei receber o abraço da minha mãe… como tenho saudades.

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