17 agosto, 2009

Haverá uma idade certa?! [3]

{Via no Eduardo uma presença masculina, como queria que fosse um pai; desabafávamos um com o outro ora durante um sumo de laranja ora um copo de vinho que ele insistia para que eu provasse.}

Eram cada vez mais raros os jantares de empresa, mas por vezes lá tínhamos um ou outro; e durante um ia eu desanimada com a vida e lá bebi mais do que devia. Não sei pormenores do jantar, mas sei que o Eduardo me levou a casa, deitou-me e deixou-se dormir no meu sofá.
Havia sido a primeira vez que ele entrava no meu simples apartamento, e logo eu estava nestas condições.

Como era habito, o despertador toca à hora do costume, como pormenor de hoje ser sábado e acordar com a cabeça pesada, olhos pretos da pintura e o Eduardo na cozinha a preparar o pequeno almoço – algo estranhamente raro para mim, alguém a preocupar-se comigo.

- Sentes-te bem? Ontem o jantar acabou cedo para ti. Estou a fazer um chá e umas torradas, vai tomar um banho e tomamos o pequeno-almoço juntos.

Realmente estava a precisar de um banho – que cara a minha.

- Obrigado por me trazeres a casa. Foste tu que me trouxeste, certo? Eu não me lembro. Acho que bebi demais ontem, ia com a minha cabeça cheia de merda e deu nisto. Desculpa se fiz algo de errado.
- Errado não foi, mas foi despropositado. Beijaste-me.
Olhei para baixo, vermelha como se tivesse sido esbofeteada, não tinha fome mas comi as torradas todas de tanto que me faltava a coragem de olhar para ele. O que fui eu fazer?!
- Não fiques assim… eu gostei. (e sorri) Não estava à espera, aliás, ninguém estava, mas ninguém tem nada com isso, é um assunto nosso.
- Não sei porque o fiz. Desde que cheguei a Portugal foste a única pessoa com quem fui capaz de ter uma relação, somos apenas amigos, mas é só contigo que consigo falar e ser eu própria, as minhas relações não deram em nada, ou eram sexuais ou não eram nada a meu ver.
Talvez por me sentir bem contigo, e mal comigo mesma é que o fiz. Desculpa. Bem sabia, quando acordei, que te devia pedir desculpa por algo, só não sabia que…. Enfim, que vergonha.
- Deixa para lá, eu sei como és, alias, eu conheço-te, e estás desculpada (sorri novamente).
- Desculpa se te fiz sentir mal. Tu és o chefe e eu uma funcionaria apenas, não devia ter acontecido. E, tu também, porque deixaste tal coisa acontecer?
- Foi bom. Tal como as tuas, as minhas relações também foram todas falhadas, já merecia um mimo. (sorri novamente) E foi um beijo teu, não foi de alguém que à partida iria recusar. Até porque, nem te devia dizer isto, mas já imaginei como seria veres-me com outros olhos, para além de um amigo. Não imaginei um beijo teu, mas já me senti curioso com tal.
- Não digas isso. Dessa não estava eu à espera. Agora ainda estou mais envergonhada.
Bem sei que gostas de conquistar, mas sempre te vi como um chefe e mais recentemente como um amigo, por isso o beijo não devia ter acontecido, nem estando bêbada nem desiludida com a vida. Devia ter separado as coisas e devia ter sido mais responsável ao ponto de não beber ate me ter agarrado ao pescoço do meu chefe. Que estupidez.
- Agora digo eu, não digas isso. Aconteceu, não precisa de acontecer novamente, basta não o quereres.
Acho que está na hora de ir embora, já vi que estás “bem”, deixo-te com os teus pensamentos. Se quiseres, ao fim da tarde procura-me na marina e conversamos um pouco. Beijinho. Fica bem.

Como foi isto acontecer. E o pior é que não tinha mais ninguém com quem falar, com que me aconselhar, alguém que me chamasse à razão, alguém que me dissesse o que fazer. Fodasse. Já devia saber até onde podia beber, já devia saber tanta coisa que desde que cheguei a Portugal fiz ou não devia ter feito.

Deitei-me o resto do dia, estava realmente deprimida, cheia de pensamentos na minha cabeça; que mais teria acontecido durante as 3h do jantar de ontem?!

À noite, já de pijama, não tinha vontade de cozinhar para mim e como tal, não jantei, quando a campainha toca. Quem seria? Não havia grande possibilidade de visitas.
Era o Eduardo, trazia um saco na mão e uma rosa branca na outra.

- Boa noite. Mais calma? Trouxe-te jantar, deduzi que a preguiça te fizesse ficar na cama. Vou aquecer a sopa, toca a levantar o rabo da cama e pôr a mesa.

Dito e feito. Mesa posta, jantar silencioso.
Vimos um filme sentados no tapete felpudo da sala, rimos mas nunca tocamos no assunto de à umas horas atrás. Sentia-me envergonhada.
À saída, deu-me um abraço que nem eu sabia que precisava.

- Obrigado. Era tudo quanto precisava. És um bom amigo. Desculpa o que fiz e o que disse, ou o que não fiz e o que não disse.

Inclinou-se mais uma vez e abraçou-me de novo, sentia-me estranhamente bem nos seus braços, olhamo-nos, beijamo-nos. E não dissemos uma palavra.
No dia seguinte, nada foi estranho, cumprimentamo-nos com um beijo tímido nos lábios e desde então estamos juntos. Como adolescentes, às escondidas dos colegas de trabalho, mas estamos juntos.

Passaram-se alguns meses, e os olhares curiosos dos colegas perguntavam-se se realmente havia lago entre nós; até que um dia saídos do elevador, o Eduardo põe o braço à minha volta e todos se calam.

Foi então que nesse dia me convidou para um passeio no seu barco, na sua casa sobre a água, na marina onde nos fomos conhecendo a cada dia.
Um domingo em que passeamos, em que me fizeste o jantar e fizemos amor como se fosse a primeira vez.

Foi com os meus 34 anos que tive o meu primeiro romance.
Um romance arrebatador. Não era virgem até encontrar o Eduardo, mas faltava-me conhecer tanto sobre o amor, esse tanto que fui conhecendo ao lado no Eduardo, o chefe engravatado durante a semana, e aquele que víamos logo de manha numa esplanada junto à praia, de chinelo e calção. O chefe a quem chamei ranhoso, com a mania que tinha dinheiro.

Não foi o melhor começo, ou então foi.
Foi o nosso, e não podia ter sido melhor desde então.

- Eduardo casamos?

{Eliana Oliveira}
{17.Agosto.2009}
{nas noites em que o sono não vinha, quando não tinha a tua companhia}

3 comentários:

  1. e as tuas historias que me fazem sonhar...

    ***

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  2. é com muita pena minha que nao consigo entrar no teu blog [iza]...
    como tal, fica apenas aqui o desejo de que voltes mais vezes.

    obrigado pelas tuas palavras.
    beijinho

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  3. a cada dia que passa o mundo gela com o simples e doce fechar dos teus lábios, faz de conta, faz aparecer de novo nos meus horizontes toda uma magia inefável e incessante que primou na primeira vez que os nossos olhares se entranharam.
    sim, sou eu. nao me reconheces de viagens antigas por memórias remotas e não contretas?
    é triste, mas é passado.
    ontem, e hoje, mas nunca mais o amanha.

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